Há alguns meses os cariocas enfrentam o caos gerado pela interdição da Avenida Niemeyer. As chuvas ocorridas nesse ano nos mostraram o tamanho da conta a se pagar em razão do crescimento desordenado, dos desvios de verbas públicas e do descaso com o Meio Ambiente. De fato, não conseguiremos medir a extensão desses impactos. Convém, no entanto, refletir sobre todos esses aspectos que atravancam a economia local, com possibilidade de respingar na economia do país.

Para melhor analisar o problema, cabe levantar algumas indagações:

• Qual o impacto social e econômico dessa interdição?
• Como fica a restauração do dano causado ao Meio Ambiente?
• Por que devemos nos preocupar em resolver os problemas gerados pelos congestionamentos diários?
• Como criar mecanismos de contenção das encostas para garantir a segurança dos que transitam por lá e dos moradores que estão em risco?
• Como conter o crescimento desordenado e reduzir os impactos ambientais provocados a partir da queima das nossas florestas, para construção de casas irregulares?

Ressalta-se que os impactos sociais são inúmeros. A população do Rio sofre direta ou indiretamente com todas essas questões já levantadas. Todos esses fatores estão interligados e, portanto, não devem ser analisados individualmente.

O trânsito compreende fator relevante, porque seu fluxo interfere diretamente no desenvolvimento econômico, justamente quando o momento está muito favorável ao crescimento econômico.

Medir o impacto que o fechamento da Niemeyer causa é desafiador, mas se lembrarmos o período em que o Túnel Rebouças ficou fechado por vários dias em 2007, afetando o trânsito em toda cidade, teremos mais clareza do quanto a Niemeyer faz falta. O prejuízo ocasionado pelo fechamento do Rebouças não se deu apenas no trânsito, foi incalculável, assim como ocorre com a interdição, sem prazo preestabelecido de reabertura, da Avenida Niemeyer.

Foto Crédito: Roberto Fernández

Quanto tempo os cariocas perdem hoje no trânsito? A mera circulação entre bairros vizinhos como a Barra, São Conrado, Gávea e Leblon ficou limitada. Será que essa limitação não reflete no comércio da região? Escritórios, consultórios, clínicas, lojas e empresas foram negativamente afetados? Qual o impacto econômico do fechamento de uma das principais vias de acesso da cidade em outras regiões como Ipanema, Jardim Botânico, Lagoa, Centro, Zona Oeste e Zona Norte? Percebe-se que as consequências são inúmeras e claramente sentidas por todos nós, cidadãos e empresários cariocas. O fato aqui é que o carioca precisa dessa importante via de acesso.

Outro ponto igualmente importante é o impacto ambiental provocado pelo desmatamento das encostas. Nossas florestas precisam ser preservadas. Queimar árvores para construir uma casa significa subtrair os recursos naturais, cada dia mais escassos e necessários para garantir o desenvolvimento sustentável. Como ficarão as gerações futuras? Nossos filhos, netos e bisnetos precisam gozar de recursos. É necessário confrontar esse problema e conscientizar a população sobre a necessidade de preservação do meio ambiente. Não dá mais para atear fogo em algumas árvores para construir uma casa. Tem de haver efetiva fiscalização que seja capaz de conter os danos ambientais. Além disso, é preciso desfazer essas amarras por meio de políticas públicas. Conscientizar, conscientizar e conscientizar!

Sabe-se que o crescimento desordenado gera efeitos gravosos no longo prazo e provoca sérias repercussões no meio ambiente, além de nos mostrar o risco do efeito maquiagem, que poderá se traduzir em tragédias, em escalas muito superiores, e gerar ainda mais descrédito em nossa cidade, manchar a nossa reputação.

A saber, para resgatar a confiança dos investidores demanda muito tempo e esforços, e tempo é outro ativo intangível que devemos considerar. Tempo é um valioso recurso!

A mobilidade urbana também merece ser considerada, e pouco a pouco resolvida, esse tema exige melhoria contínua. As pessoas precisam transitar com facilidade – congestionamentos têm impactos negativos na qualidade do ar e também interfere no bem-estar social. Como já vimos, isso alavanca o comércio, promove a circulação de bens e serviços e faz a economia deslanchar.

Logo, de nada resolverá maquiar o problema. Devemos confrontar todos esses desafios de forma conjunta, pois cuidar apenas de parte do problema seria o equivalente a enxugar gelo. O Rio de Janeiro não continuará lindo se os autores sociais permanecerem inertes e desconectados das urgências da nossa cidade. A população precisa se mobilizar e contribuir proativamente para resgatar a alegria de viver na Cidade Maravilhosa.

Assim, a Avenida Niemeyer precisa ser rapidamente devolvida aos cidadãos cariocas e, obviamente, com garantia de total segurança. Quando se envolve segurança e vida das pessoas, não cabe efeito maquiagem, o governo deve se responsabilizar. Ademais, o crescimento deve ser acompanhado com planejamento e manutenção das estruturas existentes para evitar mais riscos de desabamentos.

Quem ganhará com essa mudança de mentalidade? Todos nós!!

A palavra chave é governança. Avante Rio!

Luana Lourenço - Graduada em Direito pela Universidade Católica do Salvador. LL.M em Direito Empresarial com Especialização em Compliance Avançado pela FGV Direito Rio. Cursa o Máster Profesional em Compliance na IMF Business School, em Madri. Professora de Pós-graduação na Universidade Católica do Salvador. Diretora-Fundadora da Ocean Governança Integrada – Direcionando Empresas. Fundadora do Portal Governança no Rio - uma iniciativa para construir a integridade e desenvolvimento sustentável na cidade e no estado do Rio de Janeiro.