governança no Rio

CONTRAPONTO

Ambivalência: apatia social e necessidade de cuidado

Set 26, 2019

Luana Lourenço

 

Nosso Rio de Janeiro necessita de um olhar de cuidado e respeito aos cidadãos.

Problemas de gestão e erros políticos de décadas levaram a cidade ao atual cenário de caos e desordem. Por todo lado percebemos também os efeitos nocivos da corrupção: obras inacabadas, alto índice de desemprego, baixo nível de investimento, aumento exponencial da população de rua, elevação do número de dependentes químicos a partir do avanço do tráfico, a violência gerada pela milícia, que ao meu ver representa uma grande caixa preta e precisa ser desvendada, buracos nas vias públicas, falta de saneamento básico nas comunidades, desvalorização imobiliária em razão do contínuo crescimento desordenado, que provoca danos ambientais, e por aí vai… A lista de mazelas é imensa.

A Cidade Maravilhosa atravessa uma verdadeira crise generalizada e precisa superar os seus desafios. Não cabe mais apontar de quem foi o erro. Uma profunda mudança há de ser feita, tanto por meio de políticas públicas quanto pela ação de seus cidadãos, e o momento é agora. Devemos enxergar a crise como oportunidade, precisamos nos reinventar. Nós, cariocas e fluminenses, vimos muitos de nossos governantes serem julgados e presos por diversos crimes, e sentimos no dia a dia as difíceis consequências das décadas de uso indevido e da má gestão dos recursos públicos – problemas que se refletem principalmente em uma grave crise fiscal e na fraqueza da economia. A realidade é que vivemos esses e muitos outros problemas em nosso cotidiano. Há muito a ser mudado, e logo!

É fundamental contarmos com representantes que tenham a dignidade de admitir os erros que cometeram na vida pública e que tenham capital político para encarar os reais problemas da população, liderando assim essa mudança. Sem dúvida, temos cometido erros, e reconhecê-los significa assumir o compromisso de não mais repeti-los. Reparar as falhas é o primeiro passo para reconquistar a confiança das pessoas, promovendo a integração em prol do bem comum.

Existe uma certa ambivalência entre a vontade de mudar as coisas e o baixo comprometimento de todos com a mudança. Devemos abandonar a esperança de que tudo será resolvido em um passe de mágica. É necessário ressurgir das cinzas, pôr a motivação em prática e reagir. As transformações ocorrerão a partir de nossas próprias mudanças pessoais, e assim transformaremos a nossa cidade.

O primeiro passo é assumir o real compromisso com a integridade. O caos deve dar lugar à ordem, pois somente por meio da boa governança conseguiremos superar (ou minimizar) os principais desafios de nossa sociedade, dos quais a violência é hoje a grande preocupação.

O governo, que é o principal agente transformador, não deve distanciar-se dos clamores dos cidadãos. Ele tem o dever de dar a direção e zelar continuamente pelo fortalecimento da ética e da confiança, sob o risco de nos fazer cair ainda mais no descrédito.

Importante perceber o perigo de deixar as pessoas desassistidas das necessidades básicas. O cidadão paga seus impostos, mas não recebe a contrapartida de forma integral. Sem trabalho, saúde, educação, esgoto e sem moradia, não encontrará meios de viver uma vida digna.

A população do Rio está enfraquecida e precisa de ânimo e coragem para sair do lugar. A desesperança social tomou conta. Mas apesar de todos os problemas, nós somos capazes de promover essas transformações. Vamos assumir o nosso protagonismo.

E por que é tão importante o cuidado e o papel do gestor nessa nova direção?

Porque é preciso termos líderes capazes de unir a população em torno de um projeto de sociedade que seja mais igualitário, mais justo. Para tanto, os líderes devem abandonar seus interesses próprios e focar no bem comum, no bem-estar social. Precisamos de instituições fortes. E olhar para dentro e questionar o que pode (e deve!) melhorar nas instituições é fundamental, pois gera um poderoso efeito de autorregulação.

Precisamos construir organizações fortes, baseadas em sólidos valores éticos e morais, com integridade e governança, a fim de alinharmos a bússola na direção da retomada do crescimento econômico.

É necessário calibrar as expectativas, pois há muito o que fazer, mas com limitação orçamentária, de pessoal, diminuindo a capacidade de realização de mudanças. Assim, definir prioridades e metas é o melhor caminho para restabelecer a esperança e a confiança da sociedade, tornando-a aliada do poder público no processo de transformação. Precisamos de Governança!

Avante Rio!

CONTRAPONTO

 

Janaína Salles

O Rio de Janeiro foi um dos estados mais afetados pela crise econômica que atingiu o país entre 2014 e 2016, e que ainda reverbera na retomada lenta da economia. Porém o Rio, que recebeu megaeventos internacionais nesta década, e consequente volumosos investimentos, sofreu também com a má gestão do dinheiro público e com a corrupção, comprometendo ainda mais os cofres do estado e da prefeitura, mas, principalmente, afetando a confiança da população e de investidores, como destacou Luana Lourenço.

Em seu artigo, a autora ressalta a importância da boa gestão e liderança para que possamos avançar em uma agenda econômica que considere também progressos sociais.

Cariocas e fluminenses convivem diariamente com o aumento da população de rua, com a escalada da violência e da pobreza. É preciso cuidar para que o desenvolvimento seja repartido e garanta, de fato, bem-estar social a todos os cidadãos.

É evidente que é preciso investimento para crescer e realizar todas essas transformações. Mas antes de tudo é necessário vontade. E a população precisa fazer a sua parte – a retomada perpassa pela aceitação de um grande acordo social em torno de prioridades, e também exige ação, não apenas discurso.

Luana chama todos a movimentar-se e a agir, mesmo quando a solução parece distante. Os níveis de violência que vivemos, por exemplo, nos fazem sentir parte de uma guerra acampada por muitas forças divergentes. Emaranhado complexo de peças que exige vontade e inteligência para resolver, a fim de evitar a morte de civis inocentes e policiais.

Todas essas mudanças e ações devem respeitar preceitos éticos e de governança, para que não caiamos novamente nas armadilhas da corrupção ou da aplicação ineficiente dos poucos recursos a que temos acesso. Dessa forma, é fundamental termos boas lideranças com força suficiente para puxar essa transformação, e precisamos de instituições fortes capazes de fiscalizar e corrigir possíveis desvios.

Precisamos começar a plantar agora, para colher lá na frente, sob o risco de aprofundarmos ainda mais o nosso abismo econômico e social. É possível, mas é preciso sobretudo coragem.

#AvanteRio

Luana Lourençoé Graduada em Direito pela Universidade Católica do Salvador. LL.M em Direito Empresarial com Especialização em Compliance Avançado pela FGV Direito Rio. Cursa o Máster Profesional em Compliance na IMF Business School, em Madri. Professora de Pós-graduação na Universidade Católica do Salvador. Diretora-Fundadora da Ocean Governança Integrada – Direcionando Empresas. Fundadora do Portal Governança no Rio - uma iniciativa para construir a integridade e desenvolvimento sustentável na cidade e no estado do Rio de Janeiro.

Janaína Salles - Bacharel em Comunicação Social/ Jornalismo, cursa o MBA em Gestão de Marketing. Participou do Programa Latino-Americano de Seminários em Governabilidade, Gerência Política e Gestão Pública – FGV / Banco Latinoamericano de Desenvolvimento (CAF)/ The George Washington University. É atualmente Assessora de Imprensa do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE/FGV) e Editora-chefe do Governança no Rio.