governança no Rio

CONTRAPONTO

A prosperidade sustentável no Rio de Janeiro

Jul 30, 2019

Adriana Rocha

 

 

A governança no Rio de Janeiro é um grande desafio que inclui o resgate do espírito carioca. O sorriso largo e convidativo se perdeu na melancolia e paralisou reações. É preciso levantar a poeira e injetar ânimo e resiliência para fomentar atitudes que revertam o estigma de que o Rio não tem solução.

Sob uma perspectiva positiva, quando o mercado está desatendido abrem-se avenidas de oportunidades, e há gaps em diversos setores na nossa cidade: ordem, educação, segurança e meio ambiente. Esses setores que não atendem a população com eficiência, representam possibilidade de novos negócios. A necessidade é um convite à inovação!

Os cariocas são receptivos às novidades. As grandes transformações no setor de transportes foram assimiladas. Do metrô ao Uber, e na esteira, bicicletas e patinetes, todas essas iniciativas colaboraram para mudanças de hábitos e demonstraram a aderência da população. Algumas geraram valor ambiental e econômico para cidade e para o bolso do carioca. Ampliou-se o cardápio de alternativas, menos poluentes, e a população se beneficiou com o resultado.

Não são poucos os segmentos que podem ser beneficiados com inovação e criatividade: saneamento, habitação, educação etc. Estreitar laços com universidades e centros de estudos, assim como estimular e premiar pesquisas pela iniciativa privada, pode promover outras ações que despertem interesse, além do potencial de gerar inovação contribuindo com hábitos salutares para a sociedade. Esse estreitamento entre empresa e centros de educação promove um círculo virtuoso de conhecimento entre educação, empresa e sociedade.

Entretanto, as investidas ainda são tímidas, talvez porque antes de tudo é preciso desconstruir a percepção de que somos dependentes do governo e que nada podemos fazer. Refiro-me a nos libertar de um modelo econômico que fez cristalizar em nossas mentes a incapacidade de agir e reagir. Modelo esse em que a perspectiva dos negócios se ateia aos lucros, sem levar em conta os impactos na sociedade e no ambiente.

Essa visão monocular é bem ilustrada na esfera pessoal, com a tomada de atitudes automáticas e descompromissadas, que podem explicar parte do caos na sociedade. A ocupação desordenada nas montanhas, o descarte de lixo de forma irresponsável e a ocupação de terrenos sem registro legal são alguns dos problemas que nos levam ao caos e à desgovernança. Todas essas atitudes refletem as necessidades não atendidas e o modo de pensar de “não é comigo” ou “pago meus impostos”.

Assistimos recentemente a três episódios que ilustram a consequência dessa cegueira social, presente em todas as classes econômicas. A queda dos prédios na Muzema, a interdição da Niemeyer e o descarte inadequado de lixo na cobertura do Túnel Rafael Mascarenhas, que provocou o seu desabamento. Todos, episódios que evidenciaram impactos em sistemas urbanos-chave: edifício, mobilidade e produtos.

Esses pontos são justamente os três principais sistemas em foco no projeto Economia Circular nas Cidades, lançado em março deste ano, no Fórum Econômico de Davos, pela The Ellen Mac Arthur Foundation – Fundação que trabalha desde 2010 na transição do modelo econômico, e foca nas cidades como oportunidade de repensar atitudes e criar valor para seus habitantes.

A versão Brasil existe no programa CE100 desde 2015 – uma plataforma que oferece suporte de aprendizado, colaboração e inovação; que engloba concorrentes, governos e instituições acadêmicas com o propósito de inovar e fomentar inovação. Os pilares são: agricultura, edifícios e construção e equipamentos eletroeletrônicos.

Oportunidades para o Rio se inspirar e se engajar com atenção nos programas propostos para as cidades.

O fato de nos integrarmos ao problema ajuda a resolvê-lo. Somos parte dele.

Na esfera corporativa, o distanciamento entre as pontas é o que faz perder a liga da sociedade com os produtores. Isso deixa menos nítida a chance de inovar e perceber oportunidades, esgarça o elo da cadeia produtiva e afrouxa a corresponsabilização no impacto socioambiental. “O que os olhos não veem o coração não sente”.

Da Suíça à África, desafios fazem parte da realidade das cidades. A Cidade do Cabo superou em 2018 uma crise hídrica séria com o engajamento e a conscientização da população, e investimentos em turismo sustentável. O lago Léman, situado entre a Suíça e França, recebeu cuidados de limpeza da Net’Léman – iniciativa cidadã durante sete edições independentes, até ser adotada por uma associação.

Isso é cidadania, é Criatividade, Engajamento e Inovação.

Imagina esse tipo de ação voltado para a nossa linda Baía de Guanabara?!

O Rio merece e pode voltar a ser a Cidade Maravilhosa. Depende de nós também!

 

CONTRAPONTO

 

Luana Lourenço

 

Nos dias de hoje é fundamental debater os objetivos da Economia Circular, uma iniciativa para construir framework com foco em uma economia que seja restaurativa e regenerativa por princípio. Como bem levantado pela administradora Adriana Rocha, o trabalho da The Ellen Mac Arthur Foundation promete alavancar a economia global.

Também, vale destacar que o trabalho da fundação citada se concentra em cinco áreas interligadas, a saber: insight e análise, empresas e governos, educação e treinamento, iniciativas sistêmicas e comunicação.

Agora, qual o impacto social dessas iniciativas?

Estamos superando alguns desafios, sobretudo no que tange à conscientização cultural – uma jornada para a transformação cultural que precisamos ultrapassar. Nunca se falou tanto em sustentabilidade, e as empresas estão tomando consciência do seu papel como protagonistas na sociedade.

A Agenda 2030 do Pacto Global das Nações Unidas traz os desafios de sustentabilidade para o mercado nacional. A iniciativa também prevê soluções e oportunidades para as empresas que decidem fazer a transição para a sustentabilidade, que deve ser compreendida pelo tripé: econômico, social e ambiental.

Uma iniciativa de forte relevância é o Capitalismo Consciente, que surgiu a partir da análise de como as empresas conseguiam manter alta reputação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing.

O Instituto mostra em números como as empresas humanizadas lucram a partir da paixão e propósito elevados. A pesquisa produzida pelo instituto concluiu:

“O estudo mostrou que, em períodos longos, de 4 a 16 anos de análise, as Empresas Humanizadas chegam a ter rentabilidade duas ou mais vezes superior à média das 500 maiores empresas do país. As empresas também alcançam, segundo a pesquisa, uma satisfação 240% superior junto aos clientes, além de 225% mais bem-estar entre os colaboradores.”

A organização reconhece as Empresas Humanizadas por meio de premiação anual das empresas mais humanizadas do Brasil.

Vale frisar que nas empresas humanizadas os negócios são conduzidos primordialmente por propósitos elevados e formam ambiente empresarial onde vigoram confiança, cultura de integridade, criatividade, inovação e bem-estar dos seus funcionários.

Percebemos essas e outras iniciativas, como o Portal Governança no Rio – que nasceu com o propósito de contribuir para a melhoria do Rio, e tem como objetivo ampliar debates entre especialistas e gestores sobre o desenvolvimento sustentável da cidade e do estado do Rio.

Todas essas ações trazem mais luz à percepção de que o momento é oportuno para a transformação cultural que já pode ser sentida com esse movimento mundial. Além disso, o profissional 4.0 precisa desenvolver novas competências para sobreviver à revolução tecnológica. Caberá, portanto, à sociedade, às empresas – e seus colaboradores, que são antes cidadãos – e ao governo se adequar à nova realidade para acompanhar a constante evolução do mercado global.

O Rio de Janeiro configura-se como um dos principais vetores da economia brasileira. Portanto, a segunda maior capital do país precisa despertar e reagir às mudanças sociais, e partir firme rumo ao desenvolvimento sustentável. A população também ocupa o posto de protagonista e também precisa acompanhar essa tendência mundial.

Avante Rio!

Adriana Rocha  - Administradora pela UCAM. MBA em Marketing pela IAG PUC. Mediadora-Facilitadora do MEDIARE com certificação internacional pelo ICFML. Formação em Gestão Estratégica de Empresas Familiares pela PUC-RJ e Mediação Familiar com orientação em Empresas Familiares pela UCAM. Consultora em Empresas Familiares e Gestão Estratégica de Conflitos.

Luana Lourenço - Graduada em Direito pela UCSAL. LL.M em Direito Empresarial com Especialização em Compliance Avançado pela FGV Direito Rio. Cursa o Máster Profesional em Compliance na IMF Business School. Professora da Pós-graduação em Gestão de Conflitos e Mediação Familiar na Universidade Católica do Salvador. Diretora da Ocean Governança Integrada – Direcionando Empresas. Fundadora do Governança no Rio.